Quiet Luxury: o que é, como surgiu e as contradições dessa trend

O movimento de consumidores do mercado de luxo mundialmente chamou atenção dos olhos mais atentos e ganhou um nome. No lugar da ostentação e opulência, vieram os tons sóbrios, cortes tradicionais e a qualidade acima do luxo ostensivo.

Foto: Graeme Hunter/HBO


O que é o Quiet Luxury?

Com o sucesso da série Succession da HBO que terminou recentemente e vários acontecimentos virais, o termo "Quiet Luxury" (luxo silencioso, em tradução livre) pipocou nas redes sociais. A tendência surge junta do Recession Core, que é, como você deve imaginar, a tendência de se vestir mais discreto por conta da recessão econômica que vem atingindo os países mais ricos. E vem abraçada com o conceito Stealth Wealth ("riqueza furtiva/invisível").

Foto: Reprodução/Instagram/SuccessionFashion

Foto: Reprodução/Instagram/SuccessionFashion

Foto: Reprodução/Instagram/SuccessionFashion

"Ambos saem do mesmo contexto socioeconômico de crise, se desdobram esteticamente de formas similares, mas conversam com públicos diferentes", é o que diz a especialista em tendências de moda da WGSN Sofia Martellini ao portal G1. No caso da Quiet Luxury, ela pontua, é estritamente ligada aos consumidores do mercado de luxo. "O Quiet Luxury é, obviamente, extremamente sofisticado. Uma das principais características são, de fato, os materiais de altíssima qualidade. São peças feitas para durar, para passar de geração para geração", diz a pesquisadora.


Portanto, podemos resumir o Quiet Luxury como a tendência de se vestir com peças atemporais, discretas, com poucos acessórios e sem explicitar o uso de grifes de luxo. O que contrapõe a logomania que foi febre na década passada, extremamente usada por influencers e celebridades outrora.

Muita alfaiataria, tecidos e materiais finos como lã merino, couro legítimo, linho, seda e cashmere permeiam o movimento. Um artigo do Financial Times de abril desse ano apontou que os homens estão aderindo aos relógios esportivos (caros, é claro) ao invés de outros acessórios típicos símbolos de riqueza.

Nesse domingo, o jornal New York Times publicou um artigo primoroso, vale a leitura. Ele explica por exemplo, que ao contrário dos anos 1980, hoje um bilionário não pode ostentar festas grandiosas em locais públicos por conta da internet, o assédio da mídia seria gigante e poderia expor esses endinheirados a risco de assalto e latrocínio, além de que poderia "pegar mal". E que, portanto, o Quiet Luxury é uma forma também de se proteger de riscos a própria segurança, principalmente em países emergentes como o nosso.

De onde vem o Quiet Luxury?

Como citei acima, o Quiet Luxury, bem como o Recession Core, surgiu do atual contexto de retração econômica, crises financeiras — como o fechamento de bancos como o Silicon Valley Bank e do Signature Bank esse ano, que respingou sobre várias startups e gerou demissões em massa, inclusive no Brasil —, pós-pandemia, inflação, guerra da Ucrânia, aumento do custo de vida, que leva as classes baixa e média a gastarem menos.

"Já para as pessoas que não necessariamente foram afetadas pela crise, geralmente aquelas de classes mais elevadas, estão aderindo a um comportamento de não ostentar o dinheiro", diz Martellini. "É o que vem acontecendo desde a pandemia: não fica de 'bom tom' ostentar."

Ou seja, não surgiu porque os super ricos têm um bom gosto superior ao da plebe "cafona", é porque ficou passé ostentar na atual conjuntura mundial. E isso não vem de hoje, ao longo da história isso se repetiu, só não tinha um nome para o fenômeno. Quem não lembra da moda durante e após a crise de 2008?

Quais são as marcas Quiet Luxury?

Loro Piana, Omega e Brunello Cucinelli são exemplos de marcas preferidas dentro do Quiet Luxury. The Row, Tom Ford e Max Mara são brands bastante usadas pela personagem Shiv Roy, do seriado Recession. É aí que entra a confusão e o porquê das classes mais baixas ficarem de fora, pois por mais que uma pessoa com pouco poder aquisitivo emule o "estilo", jamais poderá entrar numa loja dessas marcas, muito menos passar pela seleção para entrar na lista de espera da bolsa Birkin da Hermès. Por isso que não faz sentido pessoas de baixa renda romantizarem o estilo Quiet Luxury e Old Money.

Old Money: estética exaltada pode ser problemática

Foto: Divulgação. Campanha Ralph Lauren de abril de 1989.

Old Money, em bom português, Dinheiro Antigo, é o termo cunhado para descrever pessoas muito ricas, aristocráticas, herdeiras de uma fortuna passada há várias gerações. Ele difere do novo-rico, isto é, pessoa que enriqueceu recentemente; muitas vezes descrita como uma pessoa sem educação —  porque adivinha só, talvez não tenha tido acesso às escolas de elite — , afetada, cafona e muito ostentadora. Nesse meio, o herdeiro é exaltado e o novo-rico criticado, o que não faz o menor sentido. Afinal, se fomos analisar friamente, o novo rico tem mais "mérito" na própria fortuna do que alguém que já nasceu em berço de ouro, herança que muita das vezes vem de linhagem escravocrata e das famílias quatrocentonas da elite paulista.

E mesmo esse diferenciador mudou ao longo do tempo. Antigamente, para alguém deixar de ser noveau riche (novo rico), tinha que vir pelo menos de 5 gerações ricas. Hoje, bastam 2-3 para deixar de ser um. Os descendentes dos imigrantes do século XX que prosperaram em terras brasileiras hoje são "Old Money". Os Kennedys quando entraram na política, ainda que fossem elogiados por seus estilo e elegância, era esnobados pelos dinheiro antigo de sua época. Ironicamente, hoje são exaltados no TikTok como um exemplar de 'Old Money aesthetic'.

Nas redes sociais, há uma espécie de culto e exaltação ao que chamam de 'estilo Old Money'. Adolescentes e jovens adultos compilam vídeos antigos de pessoas ricas e indicam roupas que se pareçam com esse estilo, substituem grifes por versões mais baratas de fast fashion como Zara ou Shein. O que não é surpreendente, afinal, a geração Z foi uma geração que nasceu numa época mais complicada economicamente que as anteriores. Milhões de jovens se encontram no início da idade adulta sem perspectiva de crescimento profissional, com dificuldades para se colocar no mercado de trabalho e uma crise climática eminente. Segundo pesquisa divulgada esse ano pelo IBGE, 1 a cada 5 jovens não estuda nem trabalha no Brasil, os chamados "nem-nem". Essa juventude, marginalizada, deseducada e sem consciência social encontra nesse estilo de vida uma aspiração, ainda que inalcançável, porque pra ser verdadeiramente Old Money, tem que ter a herança que importa.

Ainda que aqui nesse espaço eu sempre recomende que é melhor comprar boas poucas peças, com cortes clássicos, materiais bons, do que lotar o armário de peças de baixa qualidade cheias de modismos e que estarão ultrapassadas no próximo ano (ou pior, as roupas que sequer irão durar 1 ano), não farei nenhuma promoção ao Quiet Luxury por conta de todas essas implicações citadas acima, eventualmente devo citar dentro de um contexto, mas sem fazer "apologia", se é que me entendem. Suas peças não precisam necessariamente ser grifadas para você ser elegante. Elegância e elitismo não devem andar juntos.
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